Muitos
dos brasileiros, talvez a grande maioria, jamais ouviram falar de um dos mais
controvertidos personagens da história recente do Brasil, o baiano Carlos
Marighella. Nascido em Salvador, filho de um imigrante italiano com uma negra, foi
durante muitos anos uma das pessoas mais procuradas pelos órgãos de repressão
do regime militar.
Marighella |
As
circunstâncias que envolveram sua morte até hoje são contraditória, porém, a
presença de um Fusca azul, placa 24-69-28 de São Paulo, no cenário do fato é inegável.
Marighella
foi morto pela ditadura militar no dia 4 de novembro de 1969 aos 57 anos. O
tiroteio ocorreu às 20hs30, no elegante bairro paulistano dos Jardins (na
Alameda Casa Branca), num suposto confronto com policiais comandados pelo Delegado
do Departamento de Ordem Política e Social (Dops/SP), Sérgio Paranhos Fleury,
considerado um dos mais rígidos da ditadura.
Sérgio Paranhos Fleury |
As
versões para a morte:
1ª
- Marighella juntamente com frades dominicanos (Ives e Fernando) estava no
interior do Fusca que encontrava-se parado. Ao receber voz de prisão tentou
apanhar um revólver calibre 32, da pasta que trazia consigo, quando recebeu os
disparos. (versão oficial)
2ª
- Marighella começou a atravessar a alameda, rumo ao carro dos frades quando
iniciou a troca de tiros. Nesta ocasião, os religiosos que ali estavam para
atraí-lo, foram rapidamente retirados do Fusca. Sem reagir, ele morreu depois
de ser atingido por quatro disparos. Para favorecer a versão da polícia, ele
teve o seu corpo colocado no banco traseiro do Volkswagen onde foi deixado em
estranha posição para ser fotografado.
3ª
- Marighella chegou ao local numa caminhoneta Willys, não atendeu à voz de
prisão dada pelo Delegado Fleuri, e foi atingido pela rajada no peito e na
cabeça, enquanto seus dois companheiros (os frades) reagiram a tiros, matando a
Investigadora Estela de Barros Borges, que participava da operação.
4ª
- Marighella ao chegar à Alameda, dirigiu-se ao Fusca e entrou na parte
traseira. Os frades Ives e Fernando saíram rapidamente do carro e se jogaram no
chão. Percebendo a emboscada, imediatamente reagiu à prisão e foi morto.
Marighella seguia as normas de seu manual. Portava um revólver e levava duas
cápsulas de cianeto de potássio.
Marighella
ao ser morto trajava um terno cinza e uma camisa branca, para completar o
disfarce ele ainda usava uma peruca castanha, que caiu no assoalho do
Volkswagen quando ele foi atingido.
Na
mesma operação, foi baleado o Delegado Rubens Tucunduva (que fazia parte da equipe),
a investigadora da Policial Civil do Dops/SP, Estela Borges Morato que recebeu
um tiro na cabeça e veio a óbito, além do dentista Friederich Adolf Rohmann que
passava pelo local e também morreu.
As
conclusões a respeito do fato dão conta que Marighella não foi morto dentro do
Fusca. Nas fotos, a camisa dele está levantada e a calça um pouco abaixada, o
que sugere que foi arrastado pelos braços. Também os projéteis encontrados no
corpo não coincidem com as marcas encontradas no carro. O ângulo da perfuração
torna impossível que o tiro letal tenha sido dado dentro do veículo. Segundo o
laudo cadavérico, Marighella recebeu quatro tiros, um nas nádegas, outro na
região pélvica, um de raspão no queixo e o quarto, à queima-roupa, que lhe
perfurou a aorta e o pulmão, provocando a hemorragia interna que o matou. O
tiro de misericórdia foi desferido com ele ainda vivo ao tentar, intuitivamente,
defender-se segurando a arma do seu algoz, fazendo com que o projétil que o
matou, dilacerasse um dos seus dedos da mão esquerda. O tiro fatal foi feito a curta
distância.
Quatro
décadas após a morte de Carlos Marighella, ele continua a ser um personagem
enigmático da história brasileira. Poeta, revolucionário, político,
guerrilheiro, inteligente, violento, sua mítica fascina muitos e traz
repugnância a outros. Aclamado assassino e terrorista pelas autoridades, e,
herói da resistência à ditadura pela população, Marighella continuará a ser um
enigma, que se decifrado, revelará uma face ainda obscura do Brasil recente.
Fontes: