O Começo

Há pouco tempo, um ano atrás, eu estava decidido a comprar um segundo carro que custasse por volta de 5 mil reais e tivesse mecânica do Fusca. Seria um veículo usado para trabalho, que me deixasse despreocupado quanto a ser visado pelos ladrões como também pela ferrugem, visto que moro numa cidade litorânea. Como resultado conclui que um modelo em fibra de vidro seria uma boa opção sendo mais especifico o Gurgel X-12 TR.


Bom, a procura pelo carro aqui onde moro foi muito difícil, os poucos que encontrei em bom estado custavam os olhos da cara. Sem falar que não é fácil achar oficinas que fazem reparos em carrocerias de fibra de vidro, o que muito me desanimou. Foi aí que começou a nascer a ideia de comprar um Fusca pelo fato de ser um veículo robusto com peças baratas e ainda fáceis de achar. A princípio fui “acanhadamente” procurando nos classificados e internet, onde encontrei diversos modelos à venda e com uma variedade de motores: 1200, 1300, 1500 e 1600 cilindradas.

Daí surgiram as dúvidas: que ano deveria escolher? Que motor seria adequado para o meu propósito? Pesquisei muito na internet sobre as peculiaridades de cada modelo e acabei optando por um modelo da década de 80 com motor de 1300 cilindradas a gasolina. A decisão por este exemplar, é que ele viria com alguns melhoramentos que os Fuscas mais antigos não teriam como: acesso ao tanque de combustível pelo lado de fora do carro, freios a disco, bitolas traseiras mais largas, cintos de segurança dianteiros retráteis e comando dos limpadores (e pisca alerta) acionados na coluna de direção.

Com a configuração do veículo traçada, comecei a procura pelo carrinho. Sempre que via um fusquinha eu ficava procurando por uma placa de “vendo”, mas nada de encontrar, os poucos que achei estavam bem judiados, isso sem falar naqueles tomados pela ferrugem. Certo dia, lendo os classificados de um jornal local, me deparo com o anúncio de um Fusca 1300, branco, ano 77 por 3.500. Então decidi ligar para marcar uma visita. O proprietário me falou que o carro estava numa oficina e que no final de semana estaria num feirão de carros. Quando ele disse as palavras “oficina” e “feirão”, já imaginei um carro maquiado. Perguntei sobre o estado de conservação, documentação, motor e etc... o cara disse que o carro estava bom, motor 1300 e com a documentação em dia (me deu até a placa para consultar). Perguntei por que estava na oficina, sua resposta foi que era lá onde o guardava e o motivo da venda seria para comprar uma moto. Fingi que havia me convencido com o papo e marquei uma visita.

Manhã de 15 de junho, dia marcado para o “encontro”, lá estou a caminho. Bem próximo ao feirão, quando me deparo com um Fusca branco sendo empurrado para fora da pista, a princípio senti pena do proprietário pela situação de ter que empurrar seu carrinho após ter “morrido” no semáforo e não tê-lo conseguido fazer pegar, porém, tinha algo estranho com aquele carro, sua placa não me era estranha, mas tudo bem.

Chegando ao feirão, de cara vi um fusquinha branco bem na entrada, não dei muita atenção para ele e fui ao estande onde estaria o carro que procurava. Ao chegar, encontrei um Fusca azul claro bem conservado. Por curiosidade perguntei ao vendedor sobre o ano e valor, este disse que se tratava de um modelo 85 motor 1600 à venda por 8 mil. Perguntei se ele aceitaria uma contra proposta de 7 mil. O vendedor disse que não, pois o dono não tinha urgência em vendê-lo.

Perguntei então sobre o Fusca 77. Disse que havia ligado e que vim para vê-lo. Nesse momento entra um Fusca meio que se arrastando pelo estande, notei que já tinha visto aquele carro, e as pessoas que o trouxeram, em algum lugar. O carro estava bem judiado por dentro, em seu interior tinha umas latas de tinta e sacos de estopa. Os estofados estavam péssimos e na lataria dava para perceber que havia sido pintada há poucos dias. Foi aí que lembrei do fusquinha sendo empurrado minutos atrás. Era justamente ele o carro que vim ver e que estava sendo “preparado” para ser vendido por 3.500.

Nem quero imaginar o que fizeram com o coitado do carrinho para “mascarar” os maus tratos deixados pelos antigos donos. Bom, não dei muita atenção e fui embora, visitando os demais estandes da feira. Andei bastante e nada de achar um Fusca, então resolvi voltar pra casa. Ao chegar à saída do feirão, me deparo com aquele Fusca branco que disse ter visto na entrada. Me aproximei do carro e comecei a observar, abri a porta e logo o vendedor chega perguntando se havia gostado. Disse que a principio sim, perguntei sobre o ano e o motor. Ele disse que era um modelo 85 1300 e estava a venda por 8 mil. Perguntei se ele baixava o valor, tendo em vista eu ter visto, ali mesmo, um outro Fusca também 85, porém, com motor 1600 pelo mesmo valor.

Ele então disse que dava para vender por 7 mil por ele ser 1300 (pelo ano deveria ser 1600). Falei que precisaria levantar o carro para ver por baixo. Ele disse que sem problemas. Ligamos o carro (pegou de primeira) e fomos a uma oficina ali perto. Durante o percurso, perguntei se o carro tinha alternador e ignição eletrônica, ele disse que alternador sim, mas quanto a ignição não sabia informar. Ao chegarmos à oficina, levantamos o carro e constatei que o assoalho direito estava com um pequeno furo (sob a bateria), sem falar nas caixas de ar que poderiam estar comprometidas. Quanto à ignição eletrônica, um mecânico mostrou-me que o carro a possuía.

Voltamos para o feirão e fiz uma nova proposta. Disse que como iria precisar trocar o assoalho e possivelmente as caixas de ar, 7 mil estaria caro. Propus 5 mil. O vendedor disse que não dava, insisti bastante e ele sempre recusando, então agradeci pela atenção e fui embora. Nesse momento ele me pediu um tempo dizendo que iria ligar para seu chefe e ver o que poderia fazer. Minutos depois ele retorna dizendo que tudo bem.

Já em casa, depois de compra, resolvi dar um pequeno passeio para ir me acostumando com o carrinho que logo foi batizado, carinhosamente, de Kinha pela minha prima. Escolhi sair numa tarde de domingo por ser um dia em que não há muito movimento de carros, afinal de contas, toda cautela é pouca (não há seguro para Fusca) até que eu me acostume com o carro.

No começo foi um tanto estranho, mas logo me acostumei com o jeito dele. A impressão ao dirigi-lo foi muito engraçada. Painel bem simples, apenas velocímetro, marcador de combustível, seis luzes espias (lembrou o meu Ford Ka 2008), pode-se dizer que pelo menos o motorista não se distrai com luzes, sinais e central multimídia, dedicando assim toda a atenção ao trânsito. O pára-brisa fica quase colado ao rosto, prova disso é que se você ao segurar o volante resolver esticar o dedo indicador, é bem provável que o dedo toque no pára-brisa. Quanto à ventilação interna, aquilo é uma verdadeira piada que a Volkswagen quis proporcionar aos ocupantes do carro..

Ford Ka 2008. Só o mostrador de combustível e velocímetro... lembra o Fusca.


Conforto você esquece! Ao girar a chave no contato acendem-se, no painel carente de instrumentos, duas luzes vermelhas. A luz da esquerda é da pressão do óleo que logo em seguida se apaga, depois é a da carga do alternador que vai se apagando à medida que se pisa no acelerador. Ao mesmo tempo o som característico do clássico motor refrigerado a ar (air cooled) funcionando, invade cada vez mais o interior à medida que acelero. Aos poucos vou me acostumando com a posição dos pedais e com o manuseio seco do câmbio.

No que diz respeito à visibilidade pelos retrovisores externos, esta é prejudicada pela curvatura da lateral do carro. Mas tudo bem, quando se é habituado com “carros modernos” e repentinamente dirigimos um Fusca, notamos o quanto é estranha a adaptação, mas também não tem mistério nenhum, nada que alguns passeios para resolver isso, além de curtir a experiência de uma época.

Bom, quanto a sua procedência, descobri que até 30/11/2007 ele pertenceu a frota do antigo Dep. de Edif. Rod. e Transp. do ES (DERT-ES), atual, Dep. de Estr. e Rodagem do Esp. Santo (DER-ES), uma autarquia estadual. Depois disso ele ainda teve cinco proprietários antes de cair em minhas mãos em 15/06/2012. Outra descoberta foi quanto a sua última placa, amarela, cujo prefixo era LA 1887/ES.

Abaixo, as fotos do Kinha no pátio MG Veículos, a espera do banho para entrega ao novo proprietário... rsrs


4 comentários:

  1. Estas também foram as minhas escolhas. Tenho um Gurgel X-12TR 1987 como primeiro carro, e um Fusca 1961 para os finais de semana.

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    1. Legal Matheus, atualmente meu primeiro carro é um Fiesta 2009/10 comprado zero, já o Fusca 85 é só para os finais de semana. Abç

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  2. o retrovisor se vc colocar o raquetinha original melhora demais, esses paralelos parafusados sao horrivels.

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    1. Então Thiago, esses retrovisores parafusados foram descartados no ato da reforma. Quando retirei o carro da oficina, oito meses depois, eu instalei um par daquele modelo de retrovisor que equipava os Fusca 85. Meses depois troquei novamente por um par do modelo mexicano. Esteticamente achei que ficou mais bonito. Abç

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