Há
muito tempo estava curioso para saber a respeito dessas famílias de veículos
que a Volkswagen produziu, na Alemanha, entre as décadas de 60 e 70. Modelos
parecidíssimos com os nossos “correspondentes” nacionais, porém, a única coisa
que tínhamos realmente em comum era a similaridade no desenho das carrocerias.
Apenas isso!
Tudo
bem que para realidade do nosso mercado consumidor, possuir um automóvel já era
para poucos, luxo então era querer pedir demais. Por exemplo, nos anos 60 o
Ford Galaxie foi o primeiro carro nacional oferecido com câmbio automático e
direção hidráulica, enquanto o Aero Willys Itamaraty inovava por usar bancos de
couro e ar condicionado em seus modelos. Já o FNM 2000 inaugurava a era do
câmbio de cinco marchas (sincronizadas) e adoção de pneus radiais.
Na
década seguinte, novos itens como vidros elétricos e desembarcador do vidro
traseiro passaram a equipar alguns modelos, top de linha da indústria nacional.
E somente depois de 20 anos é que a injeção eletrônica chegava ao país para
contemplar o Gol GTI. É mole?
Pois
é, diante de tudo isso, fica difícil de acreditar que na Alemanha dos anos 60,
esses “derivados do Fusca” poderiam sair de fábrica equipados com ar
condicionado e injeção eletrônica. Por outro lado, aqui nenhum Volkswagen
possuiu ar condicionado e só em 1997 é que o motor boxer pôde contar com
injeção eletrônica, quando passou a equipar a Kombi. Mas tudo bem, vamos ao que
interessa.
No
início da década de 60, diante do avanço da concorrência e da própria
necessidade de oferecer novos produtos, a Volks Alemã viu que precisava mudar.
A estratégia era lançar um modelo para o qual os fiéis clientes da marca
pudessem mudar sem abrir mão da qualidade e da mecânica simples e robusta
características dos Volkswagen.
A
questão é que mesma cética com o lançamento dessa nova linha, a matriz alemã
queria que fosse compartilhada a mesma base mecânica (motor e transmissão) que
já fazia sucesso no Fusca, Kombi e Karmann Ghia, seus atuais modelos em linha. Assim nascia
em 1961 o Tipo 3 (codinome do projeto).
Essa
família era uma linha composta por três pequenos carros, todos de duas portas.
Em 1961, o primeiro a ser produzido foi o sedan, também chamado de Volks 1500
(mais tarde com a adoção do motor de 1600cc passou a ser vendido como Volks
1600), depois foi a vez da versão station
wagon, chamada de Variant, em 1962 e por último o modelo fastback, ou TL, em 1965.
No
que diz respeito à mecânica, os dois primeiros modelos (sedan e station wagon) possuíam, inicialmente,
um motor de 1500cc refrigerado a ar (derivado do Fusca 1200cc), montado na
traseira e que desenvolvia 53cv, mas que na versão 1500S (dupla carburação)
chegava aos 66cv. Em 1965 o motor teve sua cilindrada aumentada para 1600cc com
65cv.
O
que diferenciava esse motor dos demais Volks era sua configuração. No Tipo 3 o
bloco era o mesmo, entretanto, a ventoinha e o radiador de óleo foram
reposicionados, possibilitando um perfil mais baixo ao motor e maior capacidade
de carga. Essa sacada da Volkswagen foi amplamente explorada em suas campanhas
de marketing.
Nas
três versões o motor localizava-se num painel sob o porta-malas traseiro. Como
esse “motor plano” permitia um aumento na capacidade de carga, era possível ter
dois porta-malas. Este fato surpreendia os leigos que ficavam procurando o
“motor oculto”.
Três
anos depois, em 1968, surge a versão 1600E (E de Einspritzung, que em alemão significa Injection) tornando-se o primeiro automóvel produzido na Alemanha a
utilizar injeção eletrônica de combustível (Bosch D-Jetronic) como item de
série, algo muito raro naquele tempo. Em 1969 eram lançadas versões com
câmbio totalmente automático.
Outro
detalhe é que a principio, os dois primeiros modelos vinham com rodas de 5 furos
e freios a tambor nas quatro rodas. Em 1965, com o lançamento do fastback e do novo motor de 1600cc, toda
família passou a contar com pneus radiais, freios a disco nas rodas dianteiras
e tambor na traseira, além de novas rodas de 4 furos com 8 janelas para
ventilação.
Os modelos
O
sedan, ou VW 1500, foi uma proposta da Volkswagen aos possíveis compradores do
Fusca, que buscassem mais espaço e conforto. Sua reestilização mais visível
veio em 1970 quando teve sua dianteira alongada, o que segundo a fábrica
adicionou uma maior capacidade de carga.
Anos
depois a subsidiária americana da Volkswagen resolveu importá-lo para competir
com o Chevrolet Corvair, um sedan que também era equipado com motor boxer,
refrigerado a ar, montado na traseira. A diferença é que o motor da Chevrolet
era de 6 cilindros, ao invés de 4 cilindros da Volks.
O
modelo station wagon, ou Variant,
surgiu como uma opção voltada mais para o lazer familiar. A Volkswagen
precisava de um carro específico nesse segmento visto que a Kombi, embora
também desempenhasse esse papel, era mais um utilitário. A Variant foi a
pioneira nessa categoria e também um grande sucesso.
O
fastback, ou TL, chegou com estilo
mais esportivo. A intenção da Volkswagen com este modelo era a de substituir o sedan,
como aconteceu no Reino Unido, porém, em outros mercados incluindo o alemão,
ele vendia muito bem e no final, os dois permaneceram em produção, sem que um
atrapalhasse as vendas do outro.
No
que diz respeito a itens de conforto, eram oferecidos variados níveis de
acabamento e acessórios para todos os gostos: bancos confortáveis, cromados,
pára-sol, relógio, luz de cortesia, desembaçador elétrico do vidro traseiro,
bolsas nas portas, interior acarpetado, teto solar de aço (como no Fusca 1965
brasileiro) e ar-condicionado. Mesmo tendo um design mais moderno, essa família
nunca atingiu o mesmo nível de popularidade que o Fusca.
Em
1973 a
produção do Tipo 3 era encerrada com a Volkswagen dando início à fabricação do
Golf e Passat. Modelos pioneiros no emprego da “nova configuração” que adotara
além da refrigeração a água, o motor e a tração na dianteira.
Durante
a fase em que foi produzido, a família Tipo 3 ainda contou com dois protótipos.
Um modelo conversível e um sedan de 4 portas, ambos nunca foram produzidos em
série, mas que podem ser vistos no Museu da Volkswagen em Wolfsburg.
No Brasil
Presente
em vários países, no Brasil, a versão sedan, foi lançada em 1968 com o nome de
VW 1600, embora muitos o também chamasse de "Fusca 4 portas".
Contudo, as coisas por aqui não saíram como no exterior, na verdade foi um
tremendo fiasco de vendas, a começar pela posição do motor, que embora fosse um
1600cc, este não era plano, fazendo-o com que perdesse seu “porta-malas”
traseiro.
Outro
detalhe é que estava disponível apenas na versão quatro portas e não em duas
como na Europa. Vale lembrar que na época, a preferência do consumidor era por
carros de duas portas, e não os de quatro como hoje. Isso justificou seu
sucesso entre os taxistas, o que teria diminuído seu "status" junto
ao consumidor em geral.
Para piorar, seu formato pouco comum lhe rendeu apelidos como
“saboneteira”, no sul do país, e o mais famoso: Zé do Caixão (por sua
semelhança com um caixão, ou devido ao personagem de José Mojica, Zé do
Caixão). Coincidência ou não o apelido pegou.
O
fato mais crítico ocorrido na meteórica passagem do VW 1600 se deu em Dezembro
de 1970, quando um incêndio de grandes proporções, e 12 horas de duração,
atingiu a fábrica da Volks, destruindo cerca de 30% de seu maquinário.
Lamentavelmente, após este incidente, a Volkswagen do Brasil interrompeu
definitivamente a produção do VW 1600, mas continuou a produzir normalmente os
demais modelos oferecidos.
O
modelo fastback, chamado TL, vendia
mais e já contava com o motor plano da linha alemã. Entretanto nenhum carro fez
tanto sucesso aqui como a station wagon
Variant. Repetindo o que aconteceu na Alemanha, a maior parte dos carros
vendidos, aqui, nesse segmento era na versão station wagon. Seu sucesso motivou a fábrica brasileira a investir
numa sucessora, a Variant II. Com tecnologia moderna, ela era semelhante ao
Tipo 4 em muitos aspectos, mas teve vida curta, durou até a chegada da Parati.
A Variante II foi produzida de 1977
a 1980.
O VW 1600, TL e Variant foram juntamente com o Fusca e a Kombi, a base da presença da Volkswagen no mercado brasileiro. Diferente do que ocorreu na Alemanha, aqui ela conseguiu sobreviver à vinda do Passat com seu motor refrigerado a água, encerrando de vez a sua produção em 1980.
O VW 1600, TL e Variant foram juntamente com o Fusca e a Kombi, a base da presença da Volkswagen no mercado brasileiro. Diferente do que ocorreu na Alemanha, aqui ela conseguiu sobreviver à vinda do Passat com seu motor refrigerado a água, encerrando de vez a sua produção em 1980.
Tipo 4 (ou Vw 411 e 412)
Em
1968, a
Volkswagen apresentava no Paris Motor Show a família Tipo 4 ou simplesmente VW 411. A matriz alemã queria
com o VW 411 estabelecer um sofisticado veículo, num segmento superior para um
público mais exigente e que estivesse fora do alcance do Fusca e do Tipo 3,
ampliando assim sua gama de modelos. Por esta razão, a publicidade de época se
concentrou em inovações técnicas e no alto nível de conforto, bem como
destacando as características típicas da Volkswagen como: mecânica robusta, fácil
manutenção e economia de combustível.
O
VW 411 era maior e bem mais equipado que o Tipo 3. Essa nova família estava
disponível em duas versões. Inicialmente foi lançado o VW 411 (fastback) e em 1969 o VW 411 Variant (station wagon).
Nessa
época, os grandes fabricantes seguiam a configuração que adotava refrigeração a
água, motor posicionado na frente e tração nas rodas dianteiras. Enquanto isso,
a Volkswagen seguia na contramão, ainda insistindo em preservar seu tradicional
motor boxer, refrigerado a ar montado na traseira.
Em
seu lançamento, o carro que era bem mais pesado que o Fusca e o Tipo 3, contava
com motor de 1700cc de dupla carburação e transmissão manual de 4 marchas (ou
automática de 3 marchas como opcional). Em 1969 a carburação foi
trocada por um sistema de injeção eletrônica (Bosch D-Jetronic), o 411E, que
aumentava a potência de 68cv para 80cv.
Mesmo
assim, essa nova tecnologia não fazia milagres nas famosas Autobahns. Ao invés dos 145km/h de velocidade máxima na versão
carburada, na com injeção eletrônica ele passou a atingir 155km/h (câmbio
manual) ou 152km/h (câmbio automático). Fato curioso é que mesmo sendo um motor
fraco demais para competir com os concorrentes BMW, Mercedez e Opel, ele era o
mesmo que equipava o Porsche 914 de 1969.
Por
mais que não influenciasse no desempenho, o emprego da injeção possibilitou
partida rápida em temperaturas abaixo de zero, comuns no inverno de alguns
países da Europa. Outro fato importante é que o motor ganhava conexão para o
sistema eletrônico de diagnose (similar ao nosso Sistema VW-Diagnose dos anos
70), ou seja, plugava-se um scanner e este faria uma inspeção minuciosa em
vários itens (mecânicos e elétricos) do carro.
A
teimosia no uso do motor traseiro arrefecido a ar decepcionou a muitos que
esperavam a adesão da VW à tendência mundial. Na época, algumas revistas
automotivas criticavam essa estratégia da fabricante que ia de encontro à
tendência do mundo automobilístico. Algumas atacavam afirmando que a Volkswagen
não queria desapegar às origens do Fusca.
Na
linha Volkswagen, o VW 411 foi pioneiro em muitas inovações. Dentre elas a
carroceria monobloco com entre-eixos maior que o do Fusca, isso resultou em
maior espaço e conforto para os ocupantes. Apesar do motor e tração traseira, o
carro subesterçava (saía de frente) nas curvas, para corrigir essa tendência, a
Volks adotou pela primeira vez a suspensão dianteira MacPherson e suspensão
traseira com braços arrastados em conjunto com molas helicoidais, iguais as
usadas no Porsche 911, fazendo-o rodar mais macio além de proporcionar maior
estabilidade e segurança nas curvas.
E por falar em segurança, os freios eram a disco nas rodas dianteiras e tambor na traseira. Os pneus radiais na medida 155 R 15 vinham de série. A perua Variant vinha em agosto de 1969, com pneus 165 R 15 e quatro faróis circulares, estes também aplicados ao fastback. Sua embreagem era hidráulica (um requinte dos modelos com câmbio manual), mas também estava disponível com a transmissão automática que estreara no Tipo 3 em 1968 (as versões anteriores usavam embreagem à vácuo, e as marchas precisavam ser tocadas manualmente).
Carroceria monobloco. |
Suspensão e câmbios: automático (lado esquerdo) e o câmbio manual. |
E por falar em segurança, os freios eram a disco nas rodas dianteiras e tambor na traseira. Os pneus radiais na medida 155 R 15 vinham de série. A perua Variant vinha em agosto de 1969, com pneus 165 R 15 e quatro faróis circulares, estes também aplicados ao fastback. Sua embreagem era hidráulica (um requinte dos modelos com câmbio manual), mas também estava disponível com a transmissão automática que estreara no Tipo 3 em 1968 (as versões anteriores usavam embreagem à vácuo, e as marchas precisavam ser tocadas manualmente).
Outra
novidade é que a versão fastback foi
a primeira a oferecer opção das quatro portas, e ambos os modelos passaram a
ter pedais do freio e embreagem suspensos, ao invés de fixados ao assoalho. Um
fato curioso dizia respeito ao seu aquecedor que poderia ser programado com 24h
de antecedência e funcionava mesmo com motor desligado. Sendo possível deixá-lo
funcionando por até 10 minutos, enquanto o motorista preparava-se para sair de
casa.
O
interior possuía acabamento bem acima do padrão Volkswagen. Contavam com
apliques imitando madeira no painel, tapeçaria monocromática, bancos dianteiros
reclináveis com ajuste lombar, bolsas porta-revista nas costas do encosto,
encostos de cabeça, banco traseiro com descansa braço central, trazia melhor
forração nas portas, volante espumado, relógio, ausência do quebra-vento nas
duas versões e assoalho carpetado.
O
VW 411 foi fabricado de 1968
a 1972 quando sofreu uma remodelagem e passou a se
chamar VW 412. Essa versão atualizada foi produzida de 1972 até 1974 e contava
com um motor ligeiramente maior de 1800cc, de dupla carburação, com 85 cv que o
permitia chegar aos 160
km/h . Em 1969
a frente foi redesenhada, substituindo os faróis em peça
única por unidades duplas, semelhante com o que veríamos, mais tarde, na
Brasília e na Variant II.
No
mercado americano, o Tipo 4 contou com uma agressiva campanha publicitária para
empurrar as vendas. Um dos anúncios no país o mostrava como "o carro de
luxo de US$ 3.300 que Detroit não vai fabricar", com "injeção
eletrônica para um desempenho soberbo, enquanto Detroit insiste no ordinário
carburador". Outra publicidade citava "a garantia total mais longa do
mundo, excluindo apenas a Rolls-Royce", de 24 meses ou 24 mil milhas (38.400 km ). Apesar das
vantagens anunciadas, o modelo não conseguiu emplacar por lá.
Mesmo
que não atingissem nenhum recorde de vendas, essa família teve um papel
importante a desempenhar na história da Volkswagen como os últimos modelos
refrigerados a ar e um motor montado na traseira. Embora tendo saído de linha
em 1974 para dar lugar aos bem-sucedidos Golf e Passat, seu motor continuou a
equipar, por um bom tempo, a Kombi e posteriormente a Vanagon, sua sucessora,
até 1992 quando lançaram a Eurovan.
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