Depois
da viagem ao Dukes algo me dizia que eu e o Kinha íamos passar por uma fase
meio tenebrosa. Melhor dizendo, já era algo previsto, mas que me deu muita dor
de cabeça e parece que ainda vai dar mais.
Bom,
como havia dito na postagem sobre a viagem aos Dukes, eu fiz todo percurso, ida
e volta mais de mil quilômetros, com o carro ruim. Fui de teimoso, apenas
seguindo as recomendações do meu mecânico de “não forçar” muito, tipo máxima de
80 km/h.
Uma
semana após o evento no Rio de Janeiro, levei o carro ao Cyro, meu mecânico e
dono da Oficina Rafaela, para fazer uma avaliação. Sabendo que havia folga no
cabeçote e um ruído possivelmente vindo do comando foi necessário a abertura do
bloco e ao abri-lo, bingo! Folga no comando que, além disso, estava sem três
dentes na engrenagem.
Para
deixar a máquina em dia foi necessário investir mil reais na mão de obra,
oitocentos reais da retífica (bloco, camisas, cabeçotes e virabrequim), além de
mil reais em peças. Isso
sem falar no prazo de aproximadamente 15 dias para finalizar o serviço.
Aproveitei e entrei de férias só para poder acompanhar, de perto, o serviço.
O
que muito me entristeceu foi lembrar que em janeiro desse ano eu havia pago
três mil pelo motor, além dos quatrocentos reais para regularizá-lo junto ao
DETRAN. O inesperado foi seis meses depois ter que investir mais três mil para
arrumá-lo. Na boa, sei que problemas assim são previsíveis ainda mais levando
em consideração as condições dele, só não esperava que fosse tão cedo.
Com
o serviço autorizado, e pago, começaram os aborrecimentos. Cyro passou para seu
outro mecânico, segundo ele um conhecedor da mecânica vw boxer, todo o serviço.
O problema é que o cara é preguiçoso, relaxado e acreditem: Surdo! Era preciso
falar alto ao pé do ouvido para ele entender. Com o tempo o questionei sobre o
uso de aparelho auditivo, mas ele disse que o suor atrapalhava na fixação do
mesmo aos ouvidos, por isso não os usava.
Como
estava de férias, todos os dias eu chegava às 8 horas a oficina e voltava para
casa quando era fechada, só me ausentando para almoçar. Ficava num canto só
observando o trabalho do mecânico. Nisso pude vê-lo misturando os parafusos,
porcas e arruelas das latas com os do motor. Por três vezes ele soltou, a menos
de um palmo de distância, o motor no chão por não aquentar o peso do mesmo, sem
falar que usava o porta malas do meu carro para guardar o motor depois de
desmontado.
No
mesmo dia reclamei com o Cyro sobre que estava acontecendo e pedi para que ele
mesmo mexesse no motor, não queria mais ver o outro mecânico naquele serviço.
Disse ainda que não queria peças do motor no porta malas, pois poderiam marcar
o metal por dentro caso o capô fosse fechado acidentalmente. Como o bloco e
outros componentes estavam na retífica, Cyro disse que assim que chegassem ele
faria a montagem e finalização do serviço para mim.
Passado
quatro dias as peças chegaram e eis que vejo o “surdo” montando o motor e o
Cyro mexendo num carro que havia acabado de chegar. Na boa, não sou de
discutir, brigar ou coisa parecida, mas aquilo foi me dando uma raiva... Pô, se
falou que ia montar e finalizar o serviço, então por que ele não estava lá? Ao
questioná-lo ele disse que pensou melhor e como, desde o começo, já havia
combinado o valor “daquele serviço” com o surdo ficaria chato tirá-lo do cara,
mas me tranquilizou dizendo que falou com ele para ter mais cuidado, pois eu
estava observando seu trabalho, além de ser cliente antigo e bom pagador, mas
quem disse que resolveu.
No
dia seguinte é chegado o momento de fechar o bloco e começar a montar o motor.
Foi aí que voltei a me aborrecer. Lembra das porcas, parafusos e arruelas
misturados? Então, ele montou o motor, só que com tudo trocado. Reclamei disso
com ele, mas sempre tinha um argumento para tudo. Falei com o Cyro e este me
disse deixasse assim que depois iria consertar, senão atrasaria mais o serviço.
Na boa, acabei tomando raiva do Cyro e detonei seus serviços para os fusqueiros
que o conhecia e o feedback não foi surpresa.
Bom,
motor no carro era hora de fazê-lo funcionar. Colocado óleo e pronto, mas o
carro não trabalhava direito e logo culparam o distribuidor. Puseram outro para
testar e melhorou o funcionamento. Questionei que o meu distribuído (um Bosch)
estava bom, mas eles disseram que estava com problema, na verdade eles o
estragaram e não quiseram assumir. Pô, não teve jeito, precisei comprar um novo
e de marca genérica (Euro), não achei da Bosch, para colocar no lugar e o carro
pegou redondinho após regulagens.
Ao
final Cyro deu garantia de 10 mil quilômetros no serviço e mandou que rodasse
mil quilômetros antes de fazer a troca do óleo e a regulagem das válvulas,
porém, sem pegar pesado, no máximo 80 km/h. Uma semana depois, tendo rodado uns 300 km, ao ligar o carro
notei aquele barulho grosso e abafado de quando estava com folga no cabeçote.
Levei o carro à oficina e novamente o problema havia voltado. Aquilo foi a gota
d’água, discuti com Cyro ao lembrá-lo que se ele tivesse cumprido sua palavra
de montar e finalizar o motor talvez o motor não estaria com problema.
Em
meio à discussão acalorada o motor foi removido do carro, assim como seus
cabeçotes e camisas. Foi então que constatou-se que além da folga os cabeçotes
estavam com folga em 3 das 4 guias de válvula, fazendo-os retornarem a
retífica. Nisso lá se foi mais um dia perdido, sem falar no clima chato dentro
da pequena oficina. Assim que os cabeçotes voltaram Cyro, dessa vez, assumiu o
serviço ficando até tarde da noite, segundo ele, montando tudo para que no dia
seguinte pudesse me entregar o carro.
Ao
chegar à oficina me deparo com o motor (e todos os parafusos e arruelas em seus
devidos lugares, dessa vez nos lugares corretos) no carro. Dado a partida foi
feito a regulagem do ponto saí com o carro e continuei rodando até alcançar a
quilometragem restante para a troca do óleo e regulagem das válvulas.
Bom,
quase dois meses depois e ainda tendo feito uma pequena viagem pelo interior do
estado, atingi a quilometragem. Contudo, aproximadamente cem quilômetros antes
eu percebia que o carro estava dando uma leve engasgada que depois parava,
pensei que fosse algo relacionado ao ponto, giglê ou qualidade da gasolina, que
agora vinha com 27% de álcool.
Na
oficina, depois de relatado o problema dos engasgos, foi unânime o diagnóstico
para gasolina, mas ao abrir a tampa para regulagem das válvulas, eis o real
motivo: uma mola de válvula quebrou em duas partes, ou seja, o carro não estava
engasgando e sim rateando! E agora, aonde eu acharia essa mola? Cyro disse que
provavelmente na retífica poderia ter algumas sobrando. Então ele ligou e
pronto, eles tinham era só eu levar a que estava quebrada para que eles me
dessem uma similar.
De
posse da mola retornei a oficina, para ver meu motor ser, mais uma vez,
retirado do carro. Cyro disse que tentaria colocá-la no lugar sem que fosse
necessário baixar o motor. Após improvisar uma ferramenta e algumas horas o
carro ficou pronto. Contudo, hoje depois de ter rodado quase dois mil
quilômetros, noto que o engasgo voltou e para piorar, parece que um leve
barulho de folga no cabeçote esta se formando. Relatei isso ao Cyro e agendei
uma visita a oficina, agora é esperar pelo diagnóstico.
Só
um desabafo... São problemas como esse que fazem algumas pessoas, como eu, a
desistirem de seus clássicos. Hoje esta cada vez mais difícil achar mão de obra
qualificada que entenda de carros antigos. Aqui no Espírito Santo praticamente
tem pouca gente entendida no assunto e, além disso, esses “entendidos” não
enxergam nossos carros como um clássico e sim como um carro velho. É
desanimador você cuidar com todo carinho do seu veículo e quando tem que
entregá-lo numa oficina precisa fazer um monte de recomendações que nem seriam
necessárias. Uma pena ainda não termos empresas com mão de obra capacitada em
atender o público antigomobilista que é cada vez crescente e exigente.