sábado, 24 de junho de 2017

Porque o H 30-PIC e não a Dupla 32 no Fusca 1600?

Sempre que leio a respeito da “mudança de carburação simples para dupla”, vejo logo as pessoas falando de suas “receitas de veneno” como trocar comando, colocar uma Weber 40, que trabalho no cabeçote ajuda, que turbinar é o ideal, outros falam em mudar para injeção, instalar kits de pistão e camisas, escape dimensionado, pneu, colocar ignição eletrônica (ou sistema hall), velas iridium, instalar filtro esportivo, mudar o coletor, enfim, são tantas as opções que cada um tem para uma “apimentada”, mas uma coisa é certa... economia e desempenho não combinam, é como diz o ditado: cavalo que corre precisa comer!

Sei que muitos jamais assumirão, mas no fim o que todo mundo busca numa dupla é ganho de desempenho e pronto! Esse papo que o motor vai trabalhar melhor, que vai melhora seu rendimento e ficará mais econômico é apenas pano de fundo. Bom, não vou abordar esse assunto da forma que canso de ver pela internet, até porque tenho uma opinião formada a respeito do tema e meu posicionamento fará muitos discordarem dela.


Embora tenha uma dupla prontinha para ser instalada, exemplificarei porque preferi manter a carburação simples. Antes de mais nada, eu concordo e também discordo de muitas “afirmações” a respeito da dupla carburação, por outro lado, deixar de reconhecer seus benefícios seria de uma total desinformação e ignorância, mas não creio que a carburação simples seja uma desvantagem para quem a tem.

Tirando de lado as vantagens que dois carburadores realmente proporcionam ao motor, pra mim, elas caem por terra na hora que se tem de equalizá-los. O problema da dupla carburação é a sua regulagem que deve ser perfeita para que os cilindros sejam alimentados igualmente. A meu ver esse é o “Calcanhar de Aquiles” desse tipo de carburação. Sendo assim, aqui foquei apenas no quesito “praticidade” de ambas.

Seja sincero e reconheça. Não é muito mais fácil se deparar com apenas um carburador posicionado bem no centro, ali na sua frente. Bastando apenas uma chave de fenda para fazer as “regulagens” na mistura e lenta?


Agora imagine uma dupla Solex 32 PDSI. Para começar a regulagem você vai precisar de um equalizador para ajuste do vácuo, e ai você escolhe entre comprar ou fazer um equalizador. Depois tem o fácil acesso aos carburadores para fazer a “regulagem” da mistura. Por último, não podemos esquecer o ajuste das varetas de acionamento. Tudo isso para que se consiga uma perfeita afinação.


Equalizador

Equalizador caseiro.

Vamos aumentar o grau de dificuldade e adicionar uma manutenção periódica. Em qual tipo de carburação se teria menos trabalho para remover, revisar, trocar juntas, giglês, fazer limpeza e ainda reinstalá-los e regulá-los? Tenho certeza que não seria na dupla.

Lembrando que para ambas, há na internet vários tutoriais ensinando a fazer estas regulagens em casa, evitando com isso despesas com oficinas, mas caso não logre êxito, um mecânico regula um Solex H 30-PIC em menos de 10 minutos a um custo muitas vezes irrisório, porém duvido que ele consiga essa proeza numa dupla Solex 32 PDSI... e nem vou falar no custo.



Outra triste realidade é que hoje os mecânicos torcem o nariz para motores refrigerados a ar, pois muitos deles não tiveram em seu curso profissionalizante matérias sobre carburadores. Além disso, regular uma dupla carburação requer um aparelho chamado equalizador, e hoje esse equipamento é quase impossível de ser encontrado em oficinas. E não adianta dizer que é fácil equalizar em casa, a maioria até tenta, mais muitos vão acabar mesmo é nas mãos de mecânicos.

Bom, até o momento expus de forma objetiva e direta sobre a “praticidade” que é para regular e revisar ambas as carburações, mas e quanto ao tão esperado ganho no desempenho? Então, agora demonstrarei que apenas trocando um Solex H 30-PIC por uma dupla Solex 32, como muita gente pensa, é pura ilusão e na verdade um “pseudo desempenho” é o que vão conseguir.

Com base em testes (e como nunca vi teste, em revista, do Fusca 1600 mono carburado) tomei como referência os publicados pela Quatro Rodas com a Brasília 1600. A escolha do modelo foi porque tanto ela como o Fusca tiveram versões de seus motores, capela alta, com carburação simples e dupla, já os demais eram motores planos. Sendo bem objetivo, aqui analisei apenas a velocidade máxima e o consumo ok?

Então vamos aos dois primeiros testes da Brasília, logo após seu lançamento, e posteriormente os dois últimos antes dela ser descontinuada.

Revista Quatro Rodas, junho de 1973 – Brasília 1600 carburação simples
- Velocidade máxima: 132 km/h.
- Consumo: 12,5 km/l (gasolina comum)




Revista Quatro Rodas, agosto de 1973 - Brasília 1600 carburação simples
- Velocidade máxima: 128 km/h.
- Consumo: 14,3 km/l (gasolina comum)




Revista Quatro Rodas, março de 1980 - Brasília 1600 carburação dupla
- Velocidade máxima: 131 km/h.
- Consumo: 11,82 km/l (gasolina comum)




Revista Quatro Rodas, novembro de 1980 - Brasília 1600 carburação dupla
- Velocidade máxima: 133 km/h.
- Consumo: 11,73 km/l (gasolina comum)




Conclusão: Parece até piada, mas foi exatamente 1 km/h a diferença entre a maior das velocidades máximas e 14,3 km/l a melhor média de consumo... com a carburação simples.

E como previsto não vi motivo para uma dupla em meu carro. A diferença é tão pouca que se torna quase imperceptível. Não vi nada expressivo que justifique tal investimento e futuras dores de cabeça com regulagens. Novamente eu reconheço que existem benefícios no uso de dois carburadores, porém não creio que apenas um seja uma desvantagem, sendo assim, prefiro não abrir mão da praticidade.

Um detalhe: O Fusca ainda teve a vantagem de ter saído com a relação 8x31 que aliada à dupla carburação o favorecia na velocidade final. Diferente da Brasília que desde sempre possuiu apenas a relação 8x33.

Em 1994 a Revista Oficina Mecânica, nas edições de abril e maio, realizou testes comparativos com o Fusca 1600, a gasolina, e mais uma vez... bom, vamos aos resultados.





A título de curiosidade, “parece” que o único lugar que se usou dupla carburação no Fusca foi no Brasil, pois no exterior ele era equipado com um Solex 34 Pict. Não “tenho certeza”, mas parece que lá fora a Volkswagen utilizou carburação dupla somente nos motores planos dos modelos Type 3 (Squareback, Fastback, Notchback). Por aqui ela ainda chegou a usar o Solex H30/31 Pict durante um tempo (de 84 a 86).

Solex H-34 Pict

Solex H 30/31 Pict

Mas é isso, para aqueles que querem tirar leite de pedra, insistindo que “apenas” uma dupla Solex 32 o fará disparar muito na frente de um Fusca mono carburado, os resultados estão aí para provar que não é bem verdade. Se quiser desempenho de verdade, é bom estar com a carteira bem recheada, pois em se tratando de apimentar motores refrigerados a ar da Volkswagen, o céu é o limite!




Fontes:
http://pumaslubisomem.blogspot.com.br/2013/06/carburador-solex-31-pict-e-34-pict-para.html
http://fuscaitamar.com.br/oficinamecanica92.html
http://vwfuscabrasil.blogspot.com.br/2011/04/carburacao-simples-x-dupla.html
https://fuscaderivadoseoutrascoisasantigas.wordpress.com/2016/12/15/carburacao-simples-ou-dupla/


13 comentários:

  1. Bom dia Celio! Perfeito o comparativo ! estava justamente procurando algo neste sentido ! Estou em busca de um fusca Itamar e o temor da regulagem dadupla me assolava; bem como uma possível perda de potencia.Acho que agora estou mais sossegado !
    Obrigado por compartilhar as informações !
    Quem sabe mais tarde um venturi variavel !?

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  2. Em tempo; sou de Vitória-ES. Vc participa de algum clube ou grupo de fusca/refrigerados a ar?

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  3. Então, eu até que participava mas faz uns 2 anos que não compareço mais aos encontros.

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  4. Interesante, gostei da sua analise objetiva. Parabéns pela pesquisa histórica, algums destes testes tinha lido na época da publicação.

    Certamente a um ganho positivo na aceleração inicial e em retomadas usando uma dupla, mas considerando os contras não vale a pena para um uso normal.

    Agora se o cara quer é acelerar, o motor é trabalhado, tem comando... é outro caso.

    Tive Brasilia e Gol BX (#$%¨&&%) com dupla carburação nos anos 90 e já então nem mecânico que tinha trabalhado anos em concessionaria autorizada Volkswagen regulava aquelas carroças direito. Imagine hoje em dia, só se for viziho do Tonella. :)

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  5. Bem, como desempenho não é só velocidade final, o que num Fusca é um pouco complicado de melhorar devida a aerodinâmica ruim e a limitação imposta pelo cambio curto (dos "pre-tork", ou seja até 84), dois testes de epóca - 4 Rodas e Auto Esporte, que são mais objetivos, pois comparam um 1300/1600 (kit do mercado) com carburação simples e dupla (kit Puma), mostram que o principal ganho de desempenho se da nas acelerações e retomadas (26/20%), a velocidade final aumentou (~7%/8%), e também melhora ligeiramente (~2%) na média de consumo.

    https://2.bp.blogspot.com/-YPl-bwjEs9M/WXUIPVlsvII/AAAAAAAAOxA/lIqM0uB3AlI9-PVgDT-tQNb63PmZQG4-ACLcBGAs/s640/dupla.carbura%25C3%25A7%25C3%25A3o6.jpg
    https://1.bp.blogspot.com/-whlekv6izIg/WXTEkZA_2qI/AAAAAAAAOvE/AA4io-rTwPY-S2ov6muF_wRcDcmpiMrqgCEwYBhgL/s640/dupla.carbura%25C3%25A7%25C3%25A3o2.jpg
    https://oldraces.blogspot.com/2017/07/fusca-equipamentos-e-veneno-dos-anos.html

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  6. Um outro comparativo de "upgrade" em carburação de Fusca, comparando o carburador central único com um central melhorado, ex. Weber 40 IDF ganhou uns ~5s no 0 a 100 KM/H e ~8 KM na velocidade final.

    A questão, isso compensa o gasto?

    https://www.flat4ever.com/carbus-centraux-sur-1600/

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    1. Eu desconhecia esse comparativo, mas ainda prefiro a praticidade de um Solex. Principalmente no que diz respeito a facilidade ao acesso de kits de reparos (giglê, juntas, bóias...), ou seja, em qualquer birosca você encontra tudo o que precisa, sem necessitar correr para internet na busca de kits. Isso sem falar no precinho... rsrs

      Abs

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  7. Desde 11 de fevereiro de 2017 meu Fusca 1968 1300 à gasolina tem dupla carburação Solex 32 PDSI e, apesar de ter pego fogo no dia 28 de fevereiro do mesmo mês e ter precisado de uma restauração completa, continuo usando dupla carburação.
    Fiz alguns ajustes nela, inicialmente trocando os lentas de 52 pra 50, depois trocando os principais de 115 pra 120 e depois 125, depois trocando os venturis de 20 mm (1300 álcool) para de 22 mm (1600 álcool) e os principais de 125 para 137,5...
    A economia de combustível melhorou muito... recentemente fiz uma viagem com ele e fez cerca de 14 km/l na estrada, consumo excelente para uma dupla carburação!
    Para se equalizar é facílimo! Primeiro é preciso esquentar o motor, antes de fazer a equalização.
    Utiliza-se cerca de 2 metros de mangueira cristal de 7 mm com 2 giclês principais de mesma medida nas pontas (cerca de 120) e fluido de freio na mangueira. Primeiramente, fecha-se os parafusos da mistura até o final e abre-se a mesma quantidade de voltas ambos os lados, cerca de 2,5 voltas (para que ambos estando na mesma posição, não estando diferente de um lado para o outro, não interfira no rpm do motor). Então, desconecta-se as varetas e conecta cada ponta da mangueira equalizadora em cada tomada de vácuo do tubo equalizador em cada coletor de admissão.
    Então, com o motor já quente e o rpm de lenta já estabilizado, inicia-se a equalização. Com a marcha lenta já estabilizada e o ponto inicial de ignição já ajustado, primeiro atua-se nos parafusos das borboletas. O lado que estiver puxando mais, significa que é o lado que a borboleta está mais fechada e que tem mais vácuo. Se quiser aumentar o rpm do motor, acelera-se o mesmo lado que está puxando mais fluido. Se quiser diminuir o rpm, desacelera-se o lado contrário, de forma a igualar o vácuo dos dois carburadores. Depois, com o vácuo igualado em ambos os lados e consequentemente o fluido igualado na mangueira, atua-se nos parafusos da mistura, um de cada vez, fechando-o até começar a cair o rpm do motor e abrir 1/2 volta, repetindo isso no outro lado. Feito isso, já está equalizado. Se o vácuo mudar na mangueira, diferenciando um dos lados, mexe-se de novo no parafuso da borboleta e depois no parafuso da mistura (a posição do parafuso da mistura depende da posição da borboleta). Pronto, já está equalizado os carburadores! Agora só é necessário reconectar as varetas e regulá-las. Se o lado esquerdo estiver acelerando primeiro que o direito, deve-se aumentar o comprimento da vareta esquerda para atrasar a abertura e igualar nos dois carburadores. Já se for a direita que acelerar primeiro, deve-se encurtar a vareta esquerda, de forma que acelere antes, igualando a aceleração dos dois carburadores! Pronto, está equalizado!

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    1. Grande Rafael... muito bem explicado.. e eu não concordo com as postagens da página sobre os ganhos serem mínimos.. Usei PIC30 Novo no meu fusca, fiz de tudo e o desempenho era sofrido e o carro gastão.. Com a solex 32 pareceu q eu tinha trocado o 1600 por um motor maior

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  8. Eu tive os dois ao mesmo tempo, um fusca itamar 100% original e um fusca 86 com carburação simples. Posso afirmar duas coisas: uma, o na subida ele mantem velocidade com a dupla carburação, e outra é que o motor fica mais elastico, ele estica mais as marchas com a dupla carburação. como troco os filtros de gasolina e ar, dificilmente preciso limpar os carburadores. Inclusive passei o 86 para a dupla carburação para dar mais agilidade nas subidas.

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