Por
diversas vezes me deparei com a foto de um Fusca pendurado numa ponte partida
ao meio. Confesso que nunca dei muita importância, só achava curioso, por acreditar
que se tratava de um fato ocorrido em algum lugar desse mundo. Engano meu, na
verdade esse fato ocorreu no Rio Grande do Sul em 1984 e o melhor de tudo é que
os ocupantes do carrinho, inclusive ele, saíram ilesos e estão vivos para nos
contar a história. Segue parte da matéria que se refere ao casal.
Vamos lá...
"Na
época, casal e três filhos ficaram suspensos, dentro de um Fusca, em ponte que
se rompeu com a cheia do Rio Toropi-RS.
Chovia
sem parar desde sexta-feira. Maria Figliero tinha recém tirado a mesa do
almoço, quando o marido, Lídio, anunciou o passeio:
—
Vamos lá ver a ponte que caiu!
—
Mas e a louça? — preocupou-se a dona de casa.
—
Lava na volta — retrucou o serralheiro.
—
E tu não tens que trabalhar? — apelou Maria.
—
Vamos rapidinho e voltamos — Lídio encerrou o assunto.
Maria
sabia como era difícil domar a curiosidade do marido. Ela diz que Lídio devia
ter sido repórter, porque sempre gostou de acompanhar os acontecimentos que
alteram a rotina da cidade de Mata-RS, na região central do Estado. O jeito foi
colocar Tatiana, onze anos, Giovani, oito, e André, quatro, no banco traseiro
do Fusca 68. Maria seguiu como co-piloto do marido pela BR-287 em direção a
Santa Maria. Era uma terça-feira, 8 de maio de 1984.
A
ponte que tinha desabado com a força da enxurrada era como uma casa de veraneio
para os Figliero. Eles usavam a cabeceira como abrigo para acampar e pescar na
beira do Rio Toropi. Entre Mata e São Pedro do Sul, Maria deu o comando:
—
Freeeeia que é um buraco!
Passou
pela cabeça de Lídio jogar o carro contra a mureta, dar um cavalinho de pau ou
então acelerar e, como em um filme de ação, chegar "voando" até o
outro lado da fenda. Acabou fazendo o que Maria disse. Pisou fundo no freio, o
Fusca deslizou por cerca de 30
metros na pista molhada até ficar suspenso, apenas com
as duas rodas traseiras sobre o que restava do asfalto.
Qualquer
movimento faria o carro despencar de uma altura de 80 metros e mergulhar no
mar revolto em que a várzea do Rio Toropi tinha se transformado naquela tarde.
Ninguém
respirou. Ninguém falou. Lídio saiu lentamente, usou as canaletas do Fusca para
se equilibrar e foi até o capô traseiro. Fincou o pé esquerdo no para-choque e
jogou o peso do corpo para frente, tentando evitar que o carro pendesse para o
desfiladeiro.
Lá
dentro, Maria fixou os olhos na medalhinha de Santo Antônio presa no retrovisor
interno, orientou os filhos a saírem, um por um, devagar, e rezou.
Tatiana,
a mais velha, foi a primeira. Olhava o asfalto e chorava. Giovani, o do meio,
ficou em estado de choque. André mal entendia o que estava acontecendo e correu
para o colo da mãe. Maria acendeu um cigarro para se acalmar. Lídio não mudava
de posição. Com a família a salvo, estava decidido a não deixar o carro
recém-reformado ser levado pela correnteza.
O
helicóptero da Força Aérea Brasileira que sobrevoava a região, com técnicos
enviados de Brasília para analisar os estragos nas rodovias e ferrovias, pousou
na estrada. Uma equipe de televisão chegou ao local de barco. Homens do
Exército e repórteres ajudaram a puxar o Fusca de volta à estrada. Lídio manobrou,
a família embarcou e voltou para casa. Ilesa. Foi "só" um susto.
Hoje
com os filhos adultos e oito netos, os Figliero se orgulham da foto pendurada
na parede da sala e repetem a história daquele dia a cada visita que recebem.
Lídio vendeu o Fusca cinco anos depois, quando trocou Mata por Santa Maria.
Arrependido, até pensa em comprá-lo de volta.
—
Devia ter guardado como relíquia! — lamenta Lídio.
Relíquia
mesmo, para Maria, é a família ter vivido para contar."
http://noticiasdemata.blogspot.com.br/2014/05/zh-reencontra-personagens-da-enchente.html
É uma pena que desfizeram do Heroi
ResponderExcluirPois é, também não achei legal o desfecho, mas espero que tenham conseguido comprá-lo de volta.
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